De uns anos para cá, especialmente por influência do futebol jogado no exterior, passou-se a questionar (com razão) a qualidade do esporte praticado em terras brasileiras.
Esse movimento também foi ampliado pela chegada de treinadores estrangeiros que aqui obtiveram grande sucesso, como Jorge Jesus e Abel Ferreira.
Muitos chegaram à conclusão de que o futebol brasileiro possui pouca variedade tática, com a maioria das equipes optando por uma forma mais conservadora (ou reativa) de jogo.
Iniciou-se, então, uma cultura de fascínio coletivo pelo jogo ofensivo e propositivo, com a expectativa de que equipes com maior poderio técnico se exponham mais, e busquem encantar o público. Isso, inclusive, é algo que pode ser considerado positivo e importante na evolução do nosso futebol.
Contudo, nesse processo, podemos notar uma supervalorização da posse de bola na análise de uma partida. Para várias pessoas, essa se tornou uma espécie de “estatística mãe”, superior a todas as outras.
Em transmissões de futebol, por exemplo, os stats que costumam ser mais mostrados na tela são os referentes à posse de bola.
A Posse de Bola e O Jogo
Logicamente, ter a bola tende a ser melhor do que não a ter.
Isso pois, quando se mantém a posse, naturalmente o adversário torna-se inofensivo para sua própria defesa. O oponente estará preocupado em recuperá-la, ao invés de causar-lhe algum risco.
Mas isso é somente uma tendência.
Afinal, há equipes que, seja pela característica de seus jogadores, seja pela aptidão de seu treinador, são mais eficazes jogando sem a bola.
Conseguem controlar a posse do adversário, evitando que crie demasiados riscos, enquanto, ao recuperarem a bola, são capazes de acelerar o jogo e explorar os erros do outro time.
Destarte, a análise pura e simples do percentual do tempo que cada equipe tem a bola mostra-se algo incompleto e incapaz de conduzir a conclusões assertivas.
Mais do que ter a bola, é essencial que o time saiba o que fazer com ela, seja bem treinado para isso. Uma posse de bola elevada no campo de defesa, com toques laterais ou para trás, é absolutamente infrutífera.
E aliás, se objetivo dos adeptos da posse de bola é ver uma partida mais vistosa, certamente verão um jogo extremamente entediante se as equipes mantiverem tão somente uma posse defensiva da bola, sem saberem evoluir para a fase ofensiva.
A Posse de Bola e as Apostas
Para os apostadores, tampouco deve-se ficar muito preso às stats de posse de bola, que quando analisadas isoladamente podem levar a conclusões muito equivocadas.
Veja o seguinte cenário:
Equipe A e Equipe B se enfrentam em jogo ao vivo, no qual a Equipe A mantém 70% de posse durante todo o primeiro tempo.
Todavia, as chances claras de gol foram todas da Equipe B, que, quando consegue recuperar a bola, faz uma boa transição em velocidade e leva perigo.
Um punter muito apegado ao número de posse de bola poderá cair na armadilha de abocanhar odds sem valor na vitória da Equipe A, que corre seríssimo risco de derrota no cenário descrito.
Ele terá muito mais chances de escapar desse erro se analisar as estatísticas do jogo como um todo.
Dados como:
- Finalizações totais e certas,
- Número de passes certos e errados,
- Cruzamentos,
- Mapa de calor do jogo,
- Entre outros, também são muito importantes e complementares à posse de bola.
Considerações Finais
Por todo o exposto, pode-se dizer que um modelo de jogo voltado para a posse de bola pode ser extremamente eficiente, desde que bem executado.
Caso contrário, não produzirá bons resultados, e muito menos entregará um jogo interessante de se assistir.
Para um apostador, é primordial relativizar as estatísticas de posse, fazendo uma análise global das stats, das quais a posse de bola é somente uma pequena parte.
Sobre o Autor
3 Comentários
[…] texto inicial abordou a posse de bola, e hoje falaremos sobre as […]
[…] daremos prosseguimento à nossa série de textos sobre estatísticas no futebol, abordando sob o enfoque da atividade de um apostador […]
[…] texto daremos prosseguimento à nossa série sobre stats, a qual já conta com três textos […]