Variância-nas-Apostas-Esportivas
Variância-nas-Apostas-Esportivas

Durante a caminhada de um apostador esportivo, é comum que este acredite fielmente que o mais difícil a ser fazer é encontrar um método que extraia valor perante o mercado.

No entanto, a descoberta de um método que encontre +EV deveria ser equiparada a um diploma de faculdade. Ou seja, de posse deste “diploma”, o apostador estaria apto a trabalhar no mercado das apostas, mas ainda teria muito a aprender com a “vida real”.

Quando digo “vida real”, quero dizer que existe um longo caminho entre encontrar +EV e manter uma lucratividade de forma consistente. Nem sempre a taxa de +EV se reverbera em taxa de lucro.

Há alguns fatores que causam essas diferenças e certamente o principal “vilão” é a variância.

Por isso, nesse artigo irei abordar mais profundamente o impacto da variância nos apostadores de casas asiáticas (que é o meu caso).

A minha motivação para escrever o artigo

Eu estou escrevendo esse artigo para relatar como tem sido a minha “vida real” nas apostas esportivas nos últimos anos.

Foi uma forma que encontrei de fazer um processo de autoconhecimento e também para trocar experiência com vocês.

Acredito que posso ajudar em reflexões sobre esse assunto.

Veja meus números:

  • Na temporada 2020/2021 até hoje, tive um CLV médio de +1,93% e venci as odds de fechamento em 61% (já retirando o juice nas odds de fechamento em ambos os casos), o que podem ser considerados excelentes números em se tratando de casas asiáticas e ligas grandes da Europa (Premier League, La Liga, Serie A e Ligue 1). No entanto, meu ROI nesse período está bastante negativo: -11,07%;
  • Nos últimos três meses, apresentei um CLV consideravelmente mais alto (+4,97%) assim como o a taxa de vitória diante do mercado: 81%. E qual foi o resultado disso? Um ROI ainda mais baixo: -22,68%.
  • É digno de nota que meu ROI antes da temporada de 2020/2021 era algo em torno de +12%. Ou seja, nessa época a variância já estava agindo, no entanto ela estava aumentando meus lucros com relação ao verdadeiro +EV que eu extraía do mercado. Porém, só fui dar a verdadeira importância aos perigos da variância quando ela começou a drenar os meus lucros.

E qual lição eu tirei disso?

O apostador esportivo tem que fazer tudo que puder para reduzir a variância em suas apostas.

Existem dois remédios disponíveis contra a variância que podem ser extremamente úteis ao apostador:

A redução da odd média:

Devemos ter muito claro em nossa mente que, quanto menor a odd em que apostamos, menor será a variância de nossa aposta. Caso o leitor tenha dúvida disso, seguem abaixo duas simulações.

Uma de 100 apostas feitas contra o número 6 no lançamento de um dado. As apostas são de R$ 1,00 e a odd é 1,26. Na outra simulação, aposta-se 100 vezes no número 6. Neste caso, as apostas são de R$ 1,00 e a odd é 6,30. Pode-se notar que o valor esperado dessas apostas são de +5%. No entanto, pode-se notar claramente nos gráficos abaixo que a variância dos lucros acumulados é muito menor quando se trabalha com odds de 1,26:

No entanto, deve-se saber que há um preço a pagar quando se reduz a odd média das apostas: o juice que as casas cobram em linhas diferentes das principais (main line, que equilibra as odds em torno de 2,00) vai aumentando consideravelmente à medida em que a linha utilizada se distancia da linha principal.

Exemplo: em certo jogo da Ligue 1, as odds de fechamento apresentaram o seguinte comportamento (a linha principal era +0,75/-0,75):

LinhaOdd HomeOdd AwayJuice
+0/-03,401,362,94%
+0,25/-0,252,561,572,76%
+0,50/-0,502,151,792,38%
+0,75/-0,751,892,032,17%
+1,00/-1,001,632,452,17%
+1,25/-1,251,492,842,33%
+1,50/-1,501,393,213,10%

Desta forma, o apostador deve ter em mente que, ao apostar em linhas diferentes da principal, ele está abrindo mão de uma fatia do seu +EV para reduzir a variância. Mas como já vimos anteriormente que a variância é nosso principal “vilão”, acredito ser vantajoso abrir mão de um pouco de +EV por uma variância mais suave.

Quem acompanha meu trabalho de perto já percebeu que não venho trabalhando com as linhas principais há algum tempo, já que estou trabalhando para reduzir a variância.

Aumento do volume de apostas

Outra solução para que o apostador tente reduzir a variância é aumentar a quantidade de apostas que realiza (aumentar o volume de apostas).

Para jogadores de poker, a questão da importância do volume sempre é muito abordada, mas, na comunidade das apostas esportivas, esse tema não é tratado em quantidade suficiente.

Muito se fala sobre longo prazo, o que deveria ser a mesma coisa. No entanto, essa abordagem de longo prazo passa a impressão que basta esperar que o tempo será responsável por alinhar o ROI com o verdadeiro +EV que se extrai do mercado, sendo que isso não é 100% verdade, já que a variância está ligada fundamentalmente ao número de apostas que se faz. E o tempo apenas está correlacionado positivamente com o número de apostas e, portanto, não é responsável por aumentar ou reduzir a variância.

Mas então surge a seguinte questão: e qual é o volume ideal de apostas?

Isso dependerá do risco que se esteja disposto a correr de não obter lucros em dado período de tempo.

Exemplo: estou disposto a ficar sem lucros durante uma temporada inteira a cada vinte temporadas. Ou seja, estou disposto a ter 5% de chances de não ter lucros ao final de uma temporada.

O cálculo para esse risco é complicado, mas essa tarefa nos foi facilitada pelo teórico das apostas Joseph Buchdahl, da Pinnacle. Ele disponibiliza uma planilha que faz esse cálculo, conforme pode-se ver na imagem abaixo:

A tabela acima mostra que, se eu apresentar os mesmos números que apresentei nos últimos 3 meses (CLV de +4,97%, informado na tabela como “expected yield”, e odd média de 1,80, informado na tabela como “average odds”), eu precisaria fazer um volume de aproximadamente 865 apostas na temporada para ter 95,03% de chances de ser lucrativo ao final da temporada.

Caso eu ainda estivesse trabalhando com odds médias em torno de 2,00, nas linhas principais portanto, talvez meu CLV estivesse um pouco mais alto, devido à queda do juice, mas eu precisaria de mais apostas (990 apostas na temporada) para ter a mesma chance de ser lucrativo ao final da temporada, conforme a tabela abaixo (o que contribui ainda mais com a teoria de que, quanto menores as odds, menor será a variância:

No entanto, como pode-se observar, o volume de apostas requerido para ter uma chance de apenas 5% de não se obter lucro ao final de uma temporada é muito superior ao volume real que faço atualmente, que é de 100 apostas por temporada, aproximadamente. Portanto, há um caminho longo a se percorrer.

Considerações Finais

E, infelizmente, as apostas esportivas não são como o poker, no qual, para se fazer um bom volume, basta se comprometer a jogar determinado número de horas, com um determinado número de telas abertas em um limite que se tenha vantagem sobre os outros apostadores.

Nas apostas esportivas precisamos aguardar pelas oportunidades de apostas de valor e estas podem surgir, ou não, independentemente de nossa vontade.

No entanto, isso não pode ser algo que impossibilite completamente o aumento do volume de apostas. O apostador que se encontra em uma situação em que precisa aumentar o volume, pode buscar por atuar em ligas semelhantes às que já trabalha (caso o seu método funcione de forma semelhante e o apostador tenha a mesma facilidade de encontrar informação nessas ligas) e também procurar por leaks em seu método que o estejam impedindo de encontrar valor em certas partidas em que o valor realmente exista.

Sobre o Autor

Leandro Costanzi
Leandro Costanzi

Sou Leandro Costanzi, Analista de Probabilidade e Tipster em Apostas Esportivas com mais de 2 anos de experiência. Especialista em ligas europeias de futebol nos mercados asiáticos de altos limites. Realizo minhas próprias apostas e tenho um serviço de picks. Formado em Ciências Contábeis, sou muito analítico e metódico. Também utilizo meus conhecimentos em Estatística para realizar análises precisas e certeiras.

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